Faz de conta que ela era uma princesa azul pelo crepúsculo que viria,
faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos,
faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que sangue escarlate não estava em silêncio branco escorrendo
e que ela não estivesse pálida de morte, estava pálida de morte,
mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade,
precisava no meio do faz-de-conta falar a verdade de pedra opaca
para que contrastasse com o faz-de-conta verde cintilante de olhos que vêem,
faz de conta que ela amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade,
faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,
faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo, pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte,
faz de conta que ela não ficava de braços caídos quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam
e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia bastante
para desfazer os nós de marinheiros que lhe atavam os pulsos,
faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua,
faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos da gratidão mais límpida,
faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta,
faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade,
faz de conta que ela não era lunar...
Faz de conta que ela não estava chorando.
Clarice Lispector
faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos,
faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que sangue escarlate não estava em silêncio branco escorrendo
e que ela não estivesse pálida de morte, estava pálida de morte,
mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade,
precisava no meio do faz-de-conta falar a verdade de pedra opaca
para que contrastasse com o faz-de-conta verde cintilante de olhos que vêem,
faz de conta que ela amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade,
faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,
faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo, pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte,
faz de conta que ela não ficava de braços caídos quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam
e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia bastante
para desfazer os nós de marinheiros que lhe atavam os pulsos,
faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua,
faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos da gratidão mais límpida,
faz de conta que tudo o que tinha não era de faz-de-conta,
faz de conta que se descontraíra o peito e a luz dourada a guiava pela floresta de açudes e tranqüilidade,
faz de conta que ela não era lunar...
Faz de conta que ela não estava chorando.
Clarice Lispector
Estou assim, fazendo de conta... Fazendo de conta que está tudo bem, que as coisas estão se ajeitado, que não choro mais... Fazendo de conta que não to sofrendo, que não to com saudades... Mesmo ouvindo o que não queria ouvir, eu ouvi algo, o que deveria ter me bastado, mas não me bastou.. Fizeram-me um pedido, e to esperando, vou esperar, disse que não ia, mas sei que vou... Sei lá, tem horas que não sei de nada! A única coisa que sei é que pra mim ainda tem uma lacuna, tem algo inacabado... Sabe como se ainda tivéssemos ponteiros a acertar... Mas eu tive a resposta, será que to fazendo de conta que ainda tem algo a ser resolvido? Ou tem mesmo? Enquanto isso, vivo fazendo de conta... Fazendo de conta em muitas coisas.
Logo eu que nunca gostei de faz de contas, nunca gostei de criar coisas irreais, de mentir pra mim mesma...Porque é isso que estou fazendo, me enganando, tentando me convencer que tudo está bem, que sou forte, que isso vai passar logo....
Mas como está custando a passar, meu peito a cada dia que passa está mais angustiado, cada dia fica mais apertado.... Tento ocupar a mente com outras coisas, mas involuntariamente os pensamentos me atormentam... Tento então escrever, mas as palavras tornam-se tristes, ganham estas formas... Meu sorriso não é mais aberto, franco e por muitas vezes nem sincero... Vou vivendo no meu faz de conta há espera de um final feliz, porque dizem ser assim que sempre acaba um faz de conta... "Felizes para sempre"...
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