quarta-feira, janeiro 06, 2010

Ano Novo II


Mas então que vem a realidade. E ela não nem parecida com o sonho. É tão cruel. Dói. Chega a doer fisicamente. Ao ponto chegar a olhar para o céu e perguntar: “ainda não esta bom?” Será que tem realmente alguém, alguma coisa lá que olha por mim? Meu karma seria tão grande que em mais de 30 anos não deu para pagar? Já não chega de cinza? Por quanto tempo ainda vou ter que bater os pés e as mãos desesperadamente para não me afogar? Quando vem o meu bônus por não fazer maldade, por não maltratar animais, não poluir o meio ambiente, não beliscar criancinhas?

Quando vão parar de dizer que tem gente pior? Tem horrores de “gentes” piores, mas eu não posso resolver o problema de ninguém, eu tenho é que me preocupar com os meus e tentar sobreviver. Quantos sapos ainda estão previstos no meu cardápio? Porque sabe, eu to cansada. Cansada mesmo, como nunca estive antes. Não é aquele cansaço físico. É a exaustão da alma, da crença, da fé. Total ausência da esperança.

Sempre, quando algo bom acontece, penso “é minha última chance”. Então agarro com unhas e dentes essa “chance”, de fazer, de conseguir, de ser feliz, de ser. Mas acho que agarro tão forte, tão apertado... que faço essa coisa, essa chance, virar pó. Puft! Desaparece como fumaça na minha frente. Então sofro como uma cadela, choro, me quebro em mil pedaços pra me colar depois. Fica o vazio que dói. Só que agora não é isso. É pior. Não há chance, não há coisa alguma. Nada pelo qual chorar não ter conseguido agarrar, fazer, conquistar, ser. Simplesmente nada. Só a fumaça. O vazio que dói a ponto de latejar aqui dentro. As lágrimas engolidas que se juntam na garganta e eu quase não respiro. Nenhuma “última chance” pra tentar pegar com unhas e dentes... Sem Puft! “Parece cocaína, mas é só tristeza.”



"... tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara." Caio F.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Ano Novo


Primeiro de janeiro de 2010. Eu acordo despreocupada, pois meu chefe me informou que neste ano meu salário será quadruplicado e que receberei premiação por todo meu esforço. Tenho agora então mais motivos para fazer o que eu já gosto de fazer. Todos os meus processos estão fluindo maravilhosamente bem, ninguém empaca minha vida, e eu não tenho que esperar as providências alheias para tocar me frente minha rotina. Com o aumento de salário, não tenho mais dores de cabeça com as minhas contas, não tenho mais que ajustar meu orçamento e me esgoelar no final do mês. Não da pra virar madame, mas nunca quis realmente isso, mas dá pra ter a minha casa, o meu canto, o meu carro e ainda sentir alguns pequenos prazeres, me dar o direito de algumas futilidades. Tranquilidade.

Estou 10kg mais magra. Minha celulite evaporou com uma nova técnica. Posso dar pulos que minha bunda não se mexe. E agora com os braços definidos, dou tchau para todos os que conheço e os que não conheço. Meu cabelo esta lindo, hidratado e liso, sem que eu preciso morrer com o secador na mão. E eu me sinto ótima! Vaidade.

Já ganhei meu bônus de ter sido uma boa menina, enfim me acertei com o homem da minha vida, depois de tantos trancos e barrancos. Moreno, obviamente! Ele não é perfeito, não é rico e não é lindo. Não suportaria um homem perfeito. Tem defeitos, que aprendi a administrar, ele tem a tão falada estabilidade financeira e principalmente a tão esperada estabilidade emocional. Não faz jogos, não diz nas entrelinhas, apesar de entender as minhas. Ele me ama e me quer, do jeito que eu quero que me amem e me queiram. Não gosta de tudo que eu gosto, que é pra não enjoar, mas eu sei que não vai me magoar por maldade e não vai me ferir no final. Não é lindo, mas tem um charme sem igual, adora sushi, usa calças jeans justas com camisa para fora e incrivelmente sabe combinar os sapatos com as meias. Adora meu filho e ainda não decidiu se quer ter os dele. Um nosso é algo a ser discutido, mas que não é motivo de conflito. Estamos planejando juntar os trapos e eu sei que no fim dará certo. E mesmo depois de muito tempo, ele ainda fará minha respiração ficar suspensa. Ainda sinto formigamento nas mãos. Conhece cada pinta do meu corpo e nunca irá perder o tesão por mim. Toda a minha angustia se esvaiu pelos meus poros, todo meu medo evaporou como fumaça e toda minha fome foi saciada. Amor e Paz.

Minha mãe deixou de lado toda a amargura que lhe possuía a alma, e reaprendeu a viver. Tem uma saúde de ferro. Faz diversas atividades e no momento esta terminando o curso de artesanato que sempre quis fazer. Planeja uma viagem com as amigas e nem de longe lembra aquela pessoa infeliz que vagava pela casa. Minha irmã ganhou na loteria e vive muito bem obrigada. Meu irmão que quase já não da sinal de vida, deixou de ser um bundão e foi fazer tudo que empurra com a barriga. Nos encontramos esporadicamente, como deve ser em família. E ninguém incomoda mais ninguém. Harmonia.

Bernardo... Bem, Bernardo continua o mesmo, com um pouco menos de manha, um cadim menos da sua timidez e um tiquinho menos de genialidade leonina. Tenho certeza que terá boa saúde para sempre, que realizará todos os seus sonhos. Que será bem sucedido e feliz. Nunca lhe faltará nada. Assim como sei terá suas pedras no caminho, pois é preciso te-las para aprendermos a levantar. Mas vai se levantar com facilidade. No seu caminho só terão pessoas boas. Não se envolverá com drogas, não terá o coração machucado. E viverá 100 anos, com lucidez e saúde. Felicidade.

Aquela mesa de canto com Clara-Lu, Mônica, Candice, Annna, não é mais desejo. Vai ser bimestral e cada vez em uma cidade diferente! Paramos de nadar no raso. Matamos nossa fome. Atingimos nossas metas. Encontramos nossos caminhos... Mas continuamos assertivas como antes. Clara-Lu encontrou seu porto e sua calma. Mônica sua tranquilidade numa historia antiga. Candice esta quase de malas prontas para estudar na Espanha. E Annna, por incrível que pareça convenceu o namorado, a mãe, o cachorro e o gato a mudarem para o Sul, mas continua falando sem parar. Renata e Mila são minhas vizinhas de porta. Cada uma com seu cada qual. Encontro ambas todas as sextas, pois Renata dança aos sábados e para Mila este é o dia da “loucura de amor”. Honey esta chegando em turnê na cidade. Trapézio e malabares são as especialidades dela. Estou planejando, para o final do mês, uma festa com todos estes tipos tão diferentes e tão iguais. Amizade.

Neste ano novo, todos os meus ex escrotos se estreparam. Foram chutados, magoados, traídos ou faliram. Cada um onde aperta o seu calo. E eu tive a minha vingança. Porque não virei santa, nem cor de rosa. Ainda acho que aqui se faz e aqui se paga. Como Murphy felizmente esqueceu de mim, já era hora dele se preocupar com outras pessoas. Justiça (a minha).

Tenho todos os livros dos meus autores preferidos. Ainda amo Caio F., mas as coisas que ele escreveu já não caem mais como uma luva na minha vida. Clarice não me perturba mais, me parece agora uma lembrança distante de um tempo complicado, mas que me trouxe até aqui. Conquistas.

Aquele buraco que teimava em crescer no meu estômago foi preenchido por borboletas. Aquele bolo que insistentemente me trancava a garganta foi dissolvido por todas as taças de champagne que tomei em cada um dos “tim-tim” de comemoração. Seja por um desejo realizado, seja por uma conquista alcançada, seja para brindar um amigo. Ou simplesmente pelo prazer de sentir as bolinhas fazerem cócegas na garganta. Prazer.

É primeiro de janeiro de 2010 e eu (ao que parece) encontrei a plenitude.


Porque minha gente, SONHAR NÃO PAGA IMPOSTO!

Que em 2010 possamos sonhar e realizar quase todos eles. E que provemos muito do delicado da vida!



PS: A única coisa que não exagerei no sonho ai em cima foi o cabelo. Começo realmente com um corte novo (infelizmente ainda não inventaram a pílula do cabelo liso, ainda encaro o secador), mas ele esta bem mais curto, na altura do pescoço...(depois eu mostro para vocês).