quarta-feira, outubro 31, 2007

Ping-Pong

Saudade: Do quem nem se sabe ainda; Esperança: Que não deve morrer nunca; Amor: O Próprio; Incondicional: O filho; Carnal: Ainda não desisti dele. Tristeza: Não pede licença; Felicidade: Apenas momentos; Paixão: Não me pega mais; Amigos: Os mais pertos estão longe; Família: Aprendizado; Desejos: Muitos, mas ainda não sei como ter todos; Mudanças: Várias vezes ao dia; Humor: Negro; Me acham: Transparente; Na verdade: Eu engano bem. Viagem: Na janela; Trabalho: Só porque preciso; Temperatura: Fria; Música: Das antigas; Sexo: Eu gosto; Sapos: Engoli vários; Mesas: Virei algumas; Não sei: Ser indiferente; Quero: Pra agora; Tempo: Tem que dar tempo; Homens: Os morenos; Vida: A gente vive né; Gosto: Picante; Sol: De final de tarde; Chuva: Tem que vir forte; Fé: Não se explica; Perguntas: Não devo ter feito as certas; Respostas: Um dia vem; Voz: Alta, rouca; Sentido: Visão; Cheiro: De pão; Dia: Noite; Independência: A de dentro; Vou: Pra onde eu quero; Me falta: Paciência; Me sobra: Impulsividade; Meio termo: Meio morno; Equilíbrio: Dizem que existe; Sintonia: Não se forja; Bichos: Dos outros; Dinheiro: Mais do que necessário; Vontade: Se mata; Fidelidade: Antes, lealdade; Leio: Quase tudo; Escrevo: Pra esvaziar. Me importo: Com tudo e nada; Medo: De não chegar lá; Solidão: Não sei conviver; Penso: O tempo todo; Durmo: Quase nada. Palavras: Vomito-as; Sou: Isso aqui, e mais um monte de coisa; Por quê? Porque sim.

terça-feira, outubro 30, 2007

Intuições... Pessimismo... Deduções.... Ou seja, nada de útil!

Sabe aquela coisa de intuição, sexto sentido... É complicado isso né. Porque a gente simplesmente sente, sem saber bem ao certo o que sente, porque sente, e se deve sentir. Hoje to assim, peito apertado, ansiedade, agitada, e sem ao menos ter idéia do que é, mas acordei com algo. (Sai desse corpo que ele não te pertence!!). Pior de tudo é que quando to assim, nunca consigo pensar que pode ser por algo bom. É sempre uma desgraça/tragédia/noticia ruim... Às vezes se confirma, às vezes passo o dia área a troco de nada. Probabilidades... 50% de chances de eu estar certa, 50% de estar errada. Ou seja, minha intuição não é das melhores. Só espero que o dia acabe sem outra bomba ser jogada na minha cabeça. Se bem que dizem que noticia ruim vem a galope (sim, eu sou velha!). E por falar em velha. Essa coisa de idade. Hoje ta todo aquele bafafá porque vão, provavelmente, anunciar o Brasil como País sede da Copa de 2014. E ai que me parei a fazer contas, em 2014 eu terei... trinta e cinco anos! TRINTA E CINCO ANOS!!! Um filho com TREZE ANOS!! Levei um susto. Porque a gente nunca pensa assim... Em tal ano terei tal idade. Eu ao menos não penso. Pra que? Procurar um processo de depressão? Mas enfim terei trinta e cinco anos. Aproveitando meu estado alguma-coisa-muito-ruim-irá-acontecer-e-hoje-será-o-fim-do-mundo. Comecei a viajar de como estaria eu aos trinta e cinco anos... Com a tendência ao pessimismo que to hoje eu não tive uma boa previsão sobre o meu futuro... Se eu tiver sorte, muita sorte (coisa cada vez mais escassa aqui na minha vida) a tal noticia ruim seria eu ter trinta e cinco anos em 2014... Tsc... Só se eu tivesse muita sorte...

segunda-feira, outubro 29, 2007

Sonhos... Reprises...

Porque as personagens dos nossos sonhos tendem a se repetir? Falta de criatividade até para sonhar! Coisa besta viu.

To precisando de uma pauta “novas pessoas para sonhar”.

sexta-feira, outubro 26, 2007

Concha... Analogias... Suposições... Ou... Um daqueles textos bem mulherzinhas...


Eu não sou uma concha como me disseram. Mas usando esta analogia, e supondo que eu esteja errada e você certo... Eu diria. Ok, eu sou uma concha. Uma ostra. A questão é que não é difícil extrair de mim a pérola (ou as respostas, ou os querer, ou...), apenas você terá um pouco de trabalho para isso. Mas antes temos que saber o que são pérolas. “Uma pérola é um material orgânico duro e esférico produzido por alguns moluscos, as ostras, em reação a corpos estranhos que invadem o seu organismo, como um grão de areia”.

Não tenho nem idéia de como se dá o procedimento de extração dessas pérolas, nem da captura destas ostras (acredito que com gaiolas no fundo do mar), mas suponhamos (já que o que mais fazemos é supor coisas) que um mergulhador tenha que ir até o fundo do mar, para conseguir achar uma ostra, traze-la a superfície, e então abri-la cuidadosamente para tirar dela o que ela tem a oferecer. O que eu espero de você (ou de alguém) é no mínimo uma disposição para mergulhar o mais fundo que puder em mim, me trazer a superfície e então com cuidado abrir-me para extrair de mim o que tenho a oferecer.

Analogicamente, podemos dizer que uma pérola só se forma, depois que uma conha é invadida. Podemos também imaginar que uma ostra, só se fecha desta forma, tornando a extração de sua preciosidade uma coisa meio complicada, porque ao se dar esta invasão, ela foi ferida, machucada. Sendo eu, como você afirmou, uma ostra, fui invadida, e machucada. Me fechando cada vez mais, e produzindo minhas próprias pérolas, disposta a entrega-las para alguém que esteja verdadeiramente as querendo, a ponto de correr o risco de fazer todo esse processo. De se aventurar num mergulho, de procurar a ostra certa, de abri-la cuidadosamente, e depois cuidar do que encontrou. Porque suponho eu, mais uma vez, que ostras não gostem de ser engaioladas sem que demostrem um esforço para conquista-las.

Mas veja bem, eu não entendo nada de conchas, de ostras, de pérolas, de pesca... Apenas supus que seja assim. Como você supõe que eu seja uma concha.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Dando sinal...

Então é assim que funciona. A vida vem e descarrega o problema em cima de você. Sai de fininho como dissesse “te vira agora fia”. E a gente tem que se virar. Ou ao menos tentar. Porque no caso, só milagre. Mas parece que O cara lá resolveu tirar umas férias. Acabamos apenas nos debatendo pra não morrer afogado. Eu sei que os problemas somos nós mesmos que criamos, mas bem que na hora de resolvê-los podíamos ter uma ajudinha né, nem que fosse encontrar pelo nosso caminho pessoas (no caso, a que decide a questão) um pouco mais humanas. Mas parece que o ser humano esqueceu de como “ser” humano. Resolvi nada não. Até porque eu precisaria de um milagre ou ganhar na mega-sena (coisa que eu nem jogo). Os mais desesperados me emprestaram o filme o Segredo. A mais desesperada aqui assistiu. Dormi na metade do filme, porque não agüentei aquele positivismo todo. Eu sei, eu sei, que pensamento positivo atrai boas vibrações e tal, mas sinceramente não acredito naquilo tudo de desejar/materializar/possuir, se eu ficar aqui sentada desejando/materializando que tenho um baita de um carro, ele não vai aparecer estacionado na frente da minha casa, se eu não me mexer pra isso acontecer. Pra mim não cola. Muito positivo, muito animador, muito pra frente. Mas não me convence. Desespero faz as pessoas fazerem cada coisa absurda. Mas assim, não to mal num contexto geral, é apenas um PROBLEMA, mas daqueles que valem noites de insônia, e daqueles que podem te fuder legal por um bom tempo. Estranhamente outra parte da minha vida que já meio tinha desistido começa a andar. Não, não venham com “ahhh viu, nem tudo é tão ruim”. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Um não interfere e nem resolve o outro. Nem vou ficar falando muito, porque nessa maré de coisa ruim, se falar em algo bom é capaz de desandar também. O que acontece é que não ando muito inspirada pra escrever. Não me vem nada na cabeça, esta oca. Essas linhas explicativas demoraram horas pra sair. Porque também não vou aparecer aqui só pra reclamar e maldizer as coisas, ninguém tem saco pra ler isso todo dia. Quem sabe começo uma sessão de “replubicação” de alguns textos... Não sei. Eu hoje apareci mais pra dar sinal de vida. Antes que vocês comprassem um pretinho básico pra me velar. Segurem os óculos escuros. Ainda não esta na minha hora.

quarta-feira, outubro 17, 2007



P-R-O-B-L-E-M-A-S




Problemas. Desses com letras grandes e gordas... E não me venham com todo aquele blá blá blá que tudo se resolve, que tudo se ajeita, que tudo no fim fica bem... Porque, às vezes, a merda toda, é só um monte de bosta que fede. Ok? Sem aquele papo todo colorido hoje! Quando calhar, eu volto.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Drops

- Conversei com o Bernardo. Quando comecei a falar, explicando que ele sabia que o pai estava doente, que havia feito uma operação, e que o coração estava fraco... Ele me interrompeu e disse que já havia entendido o que eu queria dizer. Me abraçou e se fechou. A reação dele foi estranha, diferente do que eu esperava. E confesso que fiquei preocupada, por ele ter se fechado. Não sei se na inocência, talvez por não conviver diariamente com o pai, realmente não tenha sentido de forma forte tudo isso. E por isso não tenha externado. Mas tenho medo que ele tenha guardado dentro dele tudo o que estivesse sentido... Não inventei história alguma, falei a verdade, expliquei que o coração do pai dele estava fraco e que havia parado, que o pai havia morrido e que nunca mais iria vê-lo, disse que ele agora estaria cuidado dele de outro lugar. Deixei claro que estava ali, que não ia sair do lado dele e que estaria pronta pra tudo. A reação dele foi realmente melhor que eu esperava, mas de alguma forma não fiquei tranqüila.

- Mas meu desgaste com toda essa história esta apenas começando. Tenho toda parte legal e burocrática pela frente. A atual esposa do pai dele não morre de simpatia por mim, e só espero que ela não encrenque com todo esse processo.

- Adoro horário de verão, mas demoro uns 4/5 dias pra me adaptar a ele. Então hoje estou lenta, lenta...

- Hashmalim, meu blog não esta autorizado a visitar o teu, se quer que eu apareça, ou você autoriza, ou você comenta no haloscan;

- Dizem que a primavera já chegou... Eu ainda não vi, o inverno insiste em ficar por aqui... Estação da chuva.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Perda

Ontem à noite Bernardo e eu falávamos do pai dele. Ele me cobrava um irmão e eu dizia que ele já tinha dois, filhos do pai dele. Claro que ele me dizia que não era a mesma coisa, mas eu tentava sair pela tangente. Depois ele me disse que o pai ainda não havia dado o presente de aniversário dele. E eu explicava que, como ele já sabia, o pai estava no hospital (havia feito um transplante de rins há 80 dias), e que tínhamos que esperar ele sair do hospital para ele comprar o presente. Isso não vai acontecer. Hoje pela manhã o irmão do pai do Bernardo me ligou. Ele teve uma parada cardíaca ontem à noite, e não agüentou. Como ele hoje em dia morava em outra cidade, o velório e o enterro serão lá. Não levarei o Bernardo. Primeiro porque nesse momento seria inviável pra mim fazer essa viagem. Segundo porque até chegarmos lá, tudo já teria acabado.

Nunca precisei dar uma noticias dessas a ninguém. E agora me vejo perdida. Não sei como explicar a uma criança de 6 anos que ela nunca mais verá o pai. Não sei se espero passar o feriado das crianças, já que não poderei levar o Bernardo ao enterro. Não sei se falo agora. Não sei como começar. Minha mãe diz pra mim dizer a ele que oi pai virou uma estrela, porque Papai do Céu chamou. Talvez seja uma alternativa. Mas conheço meu filho, ele sabe exatamente o que significa morte, pois sempre teve uma maturidade incrível para a idade, e talvez essa história não o convença. Mas mesmo tendo toda essa maturidade, ele tem apenas 6 anos, e tenho medo da reação. Não quero que sofra. A pior dor para uma mãe é a possibilidade do seu filho sofrer. E como eu queria preservá-lo disso.

Perdi meu pai aos 10 anos, e nunca esqueci a dor que isso me causou. Claro que a situação do Bernardo é diferente, pois como não vivia com o pai dele, e este morava longe, as visitas eram espaçadas, não havia aquele convívio diário. Talvez a ausência não seja tão sentida. Mas ao mesmo tempo penso que eles tiveram tão pouco tempo juntos. Que tiveram tão poucas experiências. Que conheciam tão pouco um ao outro. E penso em tudo que Bernardo não terá, não passará, junto ao pai.

Eu sofro agora pelo meu filho, pelos outros dois filhos do pai dele, também tão pequenos... Por todas as experiências que eles não terão. E preciso tentar achar uma forma de suavizar tudo isso. Mas infelizmente dessa vez não tenho como colocar Bernardo embaixo da minha asa e evitar que tudo isso o atinja.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Falsidade...


Então hoje eu rio alto. Chego a gargalhar. Eu mantenho meu humor sarcástico. Eu mantenho os meus trejeitos comuns. E gargalho alto e feliz...

Como se eu achasse graça. Como uma necessidade de tentar fazer parecer que tudo esta bem...

Quando na verdade, talvez, tudo esteja prestes a desmoronar...

segunda-feira, outubro 08, 2007

Onde esta o meu par? kkkkkkkkk

Este era pra ser um post sério. Mas conhecendo meus leitores, sei que praticamente todos acharão que é sacanagem! Ok. Eu sou a maior culpada nisso tudo!

Eu não vou me casar! Essa é uma das coisas que mais penso. É sério. Não que eu não queira me casar. Eu simplesmente não vou. Entendem? Não que isso não seja da minha vontade. Simplesmente não vai acontecer. Vocês entendem????

Porque eu sinto, no mais intimo do meu útero, que isso pra mim já passou, já foi, já era. Depois do meu ultimo relacionamento (que não irei entrar em detalhes, quem sabe sabe, quem não sabe, trate de saber, se quiser também), eu perdi completamente as esperanças disso acontecer!

Se eu fosse espírita, diria eu que isso é carma de outra vida, deveria ter sido uma péssima esposa! Como não sou, posso dizer que, com certeza, eu sou uma pessoa com dois pés frios!

E não me venham com aquele blá blá blá todo “ah mas você é tão nova, só 28 anos”. Porque quanto mais o tempo passa, mais chatos ficamos, mais cheios de manias, (pra não falar daquela parte que tudo cai...), e, por conseguinte mais difícil de conseguir achar alguém pra dividir o teto. Junta isso a minha sacra santa vontade (quase inexistente) de sair de casa. A minha paciência (quase um fio) de conhecer gente. E o meu saco (quase estourando) de todo o resto... Temos então a minha certeza. Não casarei nunca!

Por via das dúvidas, to pedindo a todas que vão se casar, a todas que um dia por ventura se casarem, coloque meu nome na barra do vestido! Não sou supersticiosa... Mas vai saber né?

quinta-feira, outubro 04, 2007

Surrealismo... (Eu ainda to em pause, mas é que não aguentei)


Então, nesta fase de "eu nem sei que eu sou", me resta ver novela. Estreou a novela nova, Duas Caras. Concordo que todo mundo tem duas caras (ou até mais), mas o que eu não tenho é cara de otária. E sinceramente o autor da novela (que não faço idéia de quem seja, e nem fui procurar puramente por preguiça), esta num surrealismo difícil de engolir. Vamos lá.

Ok, a mocinha tem 18 anos, é ingênua (quem hoje em dia preserva tanta ingenuidade com 18 anos?), mas vá lá, a guria é um poço de ingenuidade. Ai que os pais morrem num acidente de carro. Obvio que é o bandido que vê tudo, aproveita-se da situação e tals. Ok. A novela tem que rolar.

Mas ai acontece que o bandido vê a oportunidade de tirar o pé da lama. Certo. Tudo muito lindo dentro do roteiro. Diz que vai cuidar da moça, atendendo o último pedido da mãe. Todos acham estranho, menos a guria abalada pela perda repentina. Mas mesmo com todo esse abalo, ela se apaixona pelo bandido bem na frente dos caixões dos pais. Depois, no mesmo dia do enterro, perde a virgindade, planeja fugir para casar... Foge, e nem depois que ele simplesmente pega o telefone da mão dela (que havia ligado pra casa), desliga com aquela cara de vilão de novela, ela desconfia de algo... Viajam novamente. A tonta, digo, mocinha, sem nenhum motivo, sem nenhum porque toma calmante que ele mandou, sem ao menos contestar... Mas esta no roteiro! Ele precisava sair para aprontar mais alguma coisa... É de mais pra mim. Analisem comigo, ela conheceu, enterrou os pais, trepou, resolveu casar, fugiu... Em dois dias!

Ah ta de mais pra engolir... E olha que só to falando da mocinha, nem comecei a destrinchar o resto....

Tsc!

terça-feira, outubro 02, 2007

segunda-feira, outubro 01, 2007

Ciclo Seco Ou Caio Fernando e seu prognóstico a minha fase de vida...

Todo mundo conhece ciclo seco, a maioria até já passou por ele. Alguns mesmo vivem desde sempre dentro dele, achando que isso é vida e eternizando o que, por ser ciclo, deveria também ser transitório. É preciso acreditar que passa, embora quando dentro dele seja difícil e quase impossível acreditar não só nisso, mas em qualquer outra coisa. Não que ciclo seco não tenha fé, o que acontece é que não podendo ver o que não é visível, fica limitado ao real.

Antes de ir em frente, é importante dizer que ciclo seco nada tem a ver com as estações do ano. É coisa de dentro do humano, não de fora, e justamente por isso não tem nenhum método: vem quando não é esperado e vai quando não se suspeita. Ciclo seco não desaba de repente sobre alguém; chega aos poucos, insidioso, lento. Quando se percebe que se instalou, geralmente é tarde demais. Já está ali. É preciso atravessá-lo como a um deserto, quando se está no meio e a água acabou. Por ser limitado ao real, o ciclo seco jamais considera a possibilidade de um oásis ou de uma caravana passando. Secamente, apenas vai em frente.

Porque o real do ciclo seco são ações, não pensamentos nem imaginações. Tanto que, visto de fora, não é visível nem identificável. Não se confunde com “depressão”, quando você deixa de fazer o que devia, ou com “euforia”, quando você faz em excesso o que não devia. Em ciclo seco faz-se exatamente o que se deve ou não, desde escovar os dentes de manhã ou beber um uísque à tardinha, mas sem prazer. Nem desprazer: em ciclo seco apenas se age, sem adjetivos. A propósito, ciclo seco não admite adjetivos — seco é apenas a maneira inexata de chamá-lo para que, dando-lhe um nome, didaticamente se possa falar nele.

E deve-se falar dele? Quero supor entusiástico que sim, mas não tenho certeza se dar nome aos bois terá alguma serventia para o dono dos bois ou sequer para os próprios bois — e essa é uma reflexão típica de ciclo seco. Mas vamos dizer que sim, caso contrário paro de escrever já. E falando-se dele, diga-se ainda que ciclo seco não é bom nem mau, feio ou bonito, inteligente ou burro — nem a Alice, de Woody Allen, nem Bette Davis em algum filme antigo, nem o Homem Elefante nem um dos irmãos Baldwin, nem Gertrude Stein nem Romário —, embora possa dar uma impressão errada a quem o vê de fora, ávido por adjetivar.

Ciclo seco, por exemplo, não se interessa por nada. Pior que não ter o que dizer, ciclo seco não tem o que ouvir, compreende? Fica na mais completa indiferença seja ao terremoto no Japão ou à demissão de Vera Fischer. No plano pessoal, tanto faz ler ou não ler um livro, ir ou não ao cinema — ciclo seco é incapaz de se distrair, de se evadir. Fica voltado para dentro o tempo todo, atento a quê é um mistério, pois que pode um ciclo seco observar de si mesmo além da própria secura, se não há sequer temporais, ventanias, chuvaradas?

Nesse sentido, ciclo seco é forte, porque nada vindo de fora o abala, e imutável, porque de dentro nada vem que o modifique.

E nesse sentido também é antinatural, pois tudo se transforma e ele não, simulando o eterno em sua digamos, i-naba-la-bi-li-dade. E sendo assim, com alívio vou quase concluindo, pode se deduzir que.

Não, não se pode deduzir nada. Só que passa, por ser ciclo, e por ser da natureza dos ciclos passar. Até lá, recomenda-se fazer modestamente o que se tem a fazer com o máximo de disciplina e ordem, sem querer novidades. Chatíssimo bem sei. Mas ciclo seco é assim mesmo.

Todo mundo tem os seus, é preciso paciência. E contemplá-lo distante como se se estivesse fora dele, e fazer de conta que não está ali para que, despeitado, vá-se logo embora e nos deixe em paz? Eu, francamente não sei.Ainda mais francamente, nem sequer sinto muito.

(texto de CFA devidamente enviado por email (2 vezes) pela Clara-Lu)