segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Closer e eu

Muita gente me apoiou, muita gente criticou, quando eu disse que não gostei de Closer, então vamos explicar. Com certeza há algum tempo atrás teria encontrado em Closer a melhor tradução do que seria o amor. Teria encontrado a verdade nua de que o amor, apenas manipula, usa e machuca. Closer seria a mais pura verdade, sem floreios nem firulas e na sua pior faceta. Se todo filme que se preze defende uma tese, Closer atesta o papel cada vez menor do afeto nas relações amorosas contemporâneas. E o faz com tamanha perspicácia. Em Closer as palavras são como tratores e as pessoas as usam para atropelar umas as outras. Não há sabão nessa estratosfera que limpe a boca suja de Closer.
Pois o que você imagina que irá acontecer quando você se apaixonar? O que espera ganhar? Você quer que a pessoa torne-se parte de você? Que a companhia dela seja o bastante? E se, por acaso, um de vocês desistir ou mudar de opinião? o que realmente nos leva à fidelidade sexual, de qualquer jeito? Você estaria disposto a arrasar a pessoa que você arrastou para sua ilusão de como a felicidade deveria ser, apenas para tentar ver se você consegue ser apenas um pouquinho mais feliz com outra pessoa? Isso é correto? E quando contamos a verdade, somos mais heróicos do que quando mentimos, mesmo que a verdade irá arrasar vidas e corações para sempre?
A resposta em Closer, se é que há uma, é que no momento em que pararmos de idealizar romances (que são uma distração, mas não são amor de verdade), poderemos realmente desfrutar de quem está ao seu lado, realmente descobrir as pessoas com quem vivemos e, portanto, nossos relacionamentos. O filme acaba se tornando um conto sobre duas pessoas que acabam descobrindo o valor do que tem, duas que acabam se perdendo e onde as verdades nada valem. Closer é perfeitamente cruel, verdadeiro, revela a hipocrisia dos relacionamentos modernos sem pregar soluções (as perguntas feitas acima permanecerão sem respostas), mas indicando onde a sociedade deslumbrada pelas belezas do sexo enfurnou a conexão espiritual com outro ser humano: atrás das caixas de papelão de um sótão.
Talvez por estas razões, e principalmente pela fase que estou, onde não consigo ver o amor de forma tão fria e pragmática, que em mim ficou a sensação de que faltou algo em Closer, algo que me incomodou.. Seria apenas um final feliz?

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