quarta-feira, julho 27, 2005

Infância

Hoje acordei com vontade de comer a broa de milho que a vizinha da minha tia na fazenda fazia, nem vou tentar explicar o quão bom era isso, vc mordia esfarelava um pouco e ia derretendo na boca... Era doce sem ser enjoativo, e era impossível comer uma só. Quando voltávamos a Porto Alegre trazíamos sacos das tais broas... Eu devia ter uns 5/7 anos mas é incrível como tem lembranças e sabores que nossa mente não esquece.
Meu pai faleceu quando eu tinha 10 anos e depois disso devo ter ido à fazenda umas 3 vezes, e seguramente fazem mais de 10 que não piso lá e nem é longe, é por não sentir realmente vontade, tenho tios, primos que perdi contato... Lá é um lugar que me lembra muito ele, pois era o seu lugar, ele não era um homem de cidade, adorava aquilo, se via no rosto dele, e eu passava todas as minhas férias de julho (naquele tempo se tinha um mês de férias) com ele, lembro que saíamos sempre de madrugada de Porto Alegre, ele me carregava no colo e me colocava dormindo no carro, chegávamos junto com o café da manhã, aqueles cafés de morrer comendo, queijo, salame italiano, morcilia, pão feito em casa, chimia, cueca virada tudo feito lá mesmo...
Saiamos da casa da minha tia e passávamos o dia na fazenda, eu brincando com os filhos dos peões (nem pensem bobagem pq eu era piá ainda), comendo uva direto da parreira, brincando de escorregar nos sacos de ração, metida em chiqueiro de porcos, no meio de vacas (agora ta explicado minha adoração por esses seres e eu ter me transformado numa kkkk). Chegava em casa uma verdadeira porquinha, ai tinha banho, mais uma seção de comilança e brincadeiras com as filhas da vizinha. Rolávamos na grama, descíamos barrancos. Andava solta, é uma cidade (que na verdade nem cidade é) minúscula, apenas uma rua principal, um hotel (que era o armazém da cidade, visto que nunca tinha hóspede), uma igreja, uma loja de roupas, e mais uma ou duas vendas e só. E lá não tinha perigo, eu vivia como o diabo gosta, completamente solta e todo mundo conhecia todo mundo, eu era a "filha do Orestes" e tava tudo resolvido...
Saudades daquele tempo, saudades daquela gente, saudade daqueles momentos, saudade do meu pai...Mas eu nem sei porque todo esse devaneio, na verdade eu só queria ter dito que acordei com vontade de comer as tais broas de milho...

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