terça-feira, outubro 24, 2006

Quem é você?

Sou a caçula de uma família de (somando todos os casamentos dos meus pais) 12 filhos. Por isso fui muito mimada, e conseqüentemente muito rebelde. Sai de casa aos 14 anos ouvindo aquela frase clássica "se sair não volta mais", sai e voltei, anos depois...

Fiz muitas merdas, usei drogas, sai delas, acho mesmo que sai disso, porque não gosto de nada que me torne dependente, por essas e outras que vivi 8 anos de insônia, porque não aceitava me tornar dependente de remédios pra dormir. E quando a droga começou a ser indispensável, mudei. Nada é mais indispensável pra mim do que eu mesma.

Morei sozinha, mas nunca só, minha casa era um albergue de gente maluca. Tive um câncer de mama aos 18 anos e um filho aos 21, mandei o pai dele a merda, ainda com 3 meses de gravidez. Já desmanchei um casamento faltando 30 dias pro mesmo, pra ir embora pra Curitiba com um cara que conhecia a menos de uma semana. Já tive um apartamento pronto pra dividir com alguém que namorava e fui trocada por outra.

Sempre gostei de dinheiro, mas tirando a minha infância nunca tive muito. Acho que gosto mais de ser do que ter, prova disso é o dito que larguei quase no altar, de família rica aqui de POA, nem pensei duas vezes pra lagar uma futura bela conta bancária, por algo que acreditava me fazer melhor, que me tirava do chão... Gosto de coisas caras, de coisas boas, mas troco tudo se tiver que correr atraz de um amor. Vivo de paixões, cansa, mas prefiro viver de algo que me arrebate a viver de algo que me deixe parada.

Profissão? Cursei tanta coisa e não cursei nada, agora que defini o que quero, falta grana... Quem sabe um dia eu tenho na ponta de língua alguma resposta pra esta pergunta.

Escrevo, não acho que bem, mas escrevo por prazer, pra gozar comigo mesma, pra esvaziar a alma e enche-la novamente... Escrever nos liberta e nos aprisiona, nos da garra e nos coloca pontos que nem sabemos explicar. Nos salva e nos perde...
Gosto de ler, e leio compulsivamente (acho que essa compulsão existe em tudo que gosto), admiro pintura mas, não entendo muito de arte. Música pra mim é vital, pra fazer festa e pra ficar na fossa.

Aos 17 anos tentei me matar, realmente queria isso. Dizia antes disso que não entendia o suicida, foi como se Deus quisesse me mostrar o que passava na cabeça de um. Não morri apenas porque ele não quis. Aprendi a valorizar a vida que tenho.

Da vida, quero apenas felicidade, não eterna, porque nunca o é, a momentânea, aqueles momentos felizes, mas inesquecíveis, ta de bom tamanho. Felicidade plena desejo para meu filho, ele sim, é infinitamente melhor que eu.

Um dia ainda vou viver numa cidade do interior (não sei se pra me salvar ou enlouquecer de vez - já que adoro agito), mas queria aquelas cidades do interior dos filmes americanos... É tem coisas nesses enlatados que eu ainda acho que deve ser realmente prazeroso...

Sou carregada de defeitos, minha impulsividade me fode, a minha falta de papas na língua faz com que eu tenha poucos amigos, mas os que tenho são fieis. E sou fiel tb, movo montanhas por alguém que precise. Mas também tenho algumas qualidades memoráveis, colocando na balança acho que vc pode me amar ou me odiar, dependendo do lado meu que ver...

Meu pai morreu quando tinha dez anos, e demorei 14 anos para perdoa-lo por isso, minha mãe e eu nos agüentamos, mas sei que lá no fundo é amor demais que faz com que sejamos tão difíceis uma com a outra. Relações humanas pra mim sempre são mais complexas do que parecem ser... Sempre a um algo mais, algo que não foi dito, que não foi expresso, que é subjetivo. E eu apesar de gostar da objetividade, sei que sou muito subjetiva...

Quem sou eu? Eu tenho 27 anos, não suporto mais nem ouvir a palavra “balada”, tenho pavor de jovens bobos e perdidos pela noite, estou sem saco para sexo sem amor e estou louca para encontrar alguém que queira construir uma vida comigo, dividir coisas, crescer juntos e... Eu confesso, quero amar e ser amada (e podem abaixar já essas sobrancelhas), todo mundo quer isso, e não é porque me fudi quinhentas vezes que não vou querer mais. Mas confesso que não tenho mais o saco que tinha, pra essa coisa de azaração, de fazer tipo, posar de gatinha... Eu sei, o que eu quero é meio complicado, mas porra eu já tenho 27 anos, me dou o direito de ser complexa, complicada e contraditória.

Eu tenho 27 anos e não tenho quase nada do que achei que teria quando chegasse aos 27 anos, ainda ando a pé, ainda não tenho uma casa minha, ainda não tenho dinheiro pras minhas futilidades (e às vezes nem pra necessidades!), eu ainda ajo como uma criança mimada, eu ainda sou a pessoa mais confusa que conheço... Eu não tenho a família que achei que teria, eu não tenho o emprego que achei que teria. Meu Deus, onde foi parar aquela segurança, aquela maturidade que pensei que encontraria quando tivesse 27 anos? Quantas mentiras nos contaram! Quantas mentiras nos contamos! E o pior, onde foi parar a minha bunda dura dos 18 anos???

Eu tenho 27 anos e tenho coisas que não achei que tivesse quando chegasse aos 27 anos, eu tenho um filho, eu tenho muitas cicatrizes de corpo e de alma, eu tenho uma imaturidade que me irrita, eu tenho em mim uma lacuna que nunca se preenche, eu tenho experiências que algumas pessoas não tem. Eu tenho um senso critíco que me enlouquece... Como fazemos planos! Como achamos que a vida é simples! E sim, eu já tenho até uma bunda mole!

Eu tenho 27 anos e ainda vou me casar, não na igreja, não no papel... Casar de alma com alguém... Sonho, sonho muito, infinitamente mais que meu corpo e minha mente agüentam. Só os sonhos nos libertam. Só os sonhos nos aprisionam. Nem todos são pra ser realizados, alguns apenas pra serem sonhados e quem sabe a gente atinja um terço deles...

Eu tenho 27 anos e ainda tenho sonhos da menina que fui, tenho sonhos de um grande amor, de família de comercial de margarina, de se não conseguir mudar o mundo, mudar ao menos o mundo que gira em torno do meu umbigo.

Eu sei onde quero chegar, só estou ainda procurando o caminho que me fará chegar até lá...

*** Esse texto foi um comentário que fiz no blog da Alê Félix, que perguntou “Quem é você?”, ele foi melhorado, corrigido e virou isso.

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