quarta-feira, junho 11, 2008

O texto.


Então, segue abaixo o texto (impublicável?) da Clara-Lu que me inspirou naquele outro post...

IMPUBLICO

Sabe qual é o meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia... E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir nesse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia. Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude.
[Fernanda Young em “Aritmética”]

Se tivesse me sobrado alguma, eu teria vergonha de dizer que poderia recitar isso ai pros parcos seres que pisaram minhas areias... estou até agora chocada, mas é me imperativo confessar: eu preferia ser apenas a Beatriz de Chico, altiva, envolta nos véus de seu mistério. Alguma tristeza, que senão faltaria beleza (né, Candice?), mas irrepreensível em dignidade. Maior que as suas dores e por isso mesmo serena, cretinamente serena.

Dai eu leio uma coisa dessas numa tarde ociosa e me descubro outra. Estúpida. Latina. Bethânia... de uma previsibilidade patética, sendo eu tão mulher qto as outras, sejam as de Chico ou qualquer Zé. E dessa vez nem posso me escusar por TPM!

Nem sei se lamento ninguém alcançar o que quero dizer: me é absolutamente familiar isso de querer mais um pouquinho, eu sempre quero, e quero geralmente o que não se pode dar mesmo, pq nem sei direito o que é. Mas esse livro me evidenciou a diferença entre querer UMA pessoa e querer A pessoa. Entre meus caprichos e minhas imprescindibilidades. (Estúpida. Latina. Bethânia...)

Esse recorte é um escândalo de precisão, de uma franqueza indecente pros meus eufemismos. Mas uma vez descoberta - e com a breguice devidamente desculpada - sigo confessando: o mais agressivo nem é constatar que nunca souberam aproveitar minha sempre bem humorada cia.; nem o ridículo de decair em chatice (pr'o que, aliás, um outro recorte dá uma excelente justificativa); nem admitir que não sou tão esperta qto acredito ser; nem a derrota que é constatar que meu cortejo de virtudes fez mais mal do que bem... o foda é descobrir que algo em mim ainda espera que esses sujeitos que nunca consegui ter a vera, por incompetência ou fatalidade mesmo, me surpreendam com algo que sinalize que lamentam tanto quanto eu... e enxergar - agora com meus olhos de Alcione - que em culpa ou dolo, tenho participação ativa na morte matada dos meus fiascos emocionais.

blergh. Estamos em que ano, hein? Incrível como tudo evolui e ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais, apesar de termos feito tudo o que fizemos...

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